Projeto de Lei, de autoria do vereador Antônio Neto Lacerda, dá denomina de Francisca Anita de Macedo Marques uma rua, situada no bairro Alto Brilhante, em Quiterianópolis. O Projeto de Lei Nº 050/2019 foi votado na sessão Câmara Municipal de Quiterianópolis, na sessão da última sexta-feira,22, e aprovado por todos os parlamentares presentes.
Em sua justificativa, Antônio Neto destacou a importância de Tia Anita, como professora, religiosa e defensora dos direitos das crianças. “Tia Anita foi uma mulher que não mediu esforços para ajudar as pessoas que mais necessitavam. A gente notava a satisfação que ela tinha em desenvolver ações que tivessem como finalidade amar, acolher, compreender e proteger principalmente as crianças, além de promover o respeito aos direitos de todos”, ressaltou.
Conheça mais sobre Tia Anita, através de texto do jornalista Cícero Lacerda, publicado após a morte dessa notável quiterianopolense, em janeiro de 2019.
Tia Anita – Vida, fé, caridade e ação transformadora
Quiterianópolis perdeu, neste mês de janeiro de 2019, uma de suas moradoras mais ilustres, a senhora Francisca Anita de Macedo, a Tia Anita. Catequista, legionária de Maria e líder da Pastoral da Criança neste município, Tia Anita deixa um legado admirável para sociedade quiterianopolense.
Aos 78 anos, um infarto a levou para junto do Pai, no dia 11 de janeiro deste ano de 2019. Familiares, parentes e amigos sentem-se consternados com a partida dessa mulher notável que muito lutou pela construção de um mundo mais justo e solidário.
Voz calma, olhar tranquilo, palavra firme e um sorriso que transmitia paz e refletia luz. Assim era Tia Anita, cristã dotada de bondade, sabedoria e uma capacidade admirável de lidar com problemas e obstáculos.
Sofrimento e superação sempre estiveram presentes na vida dessa heroína, nascida em Quiterianópolis (na época Santa Quitéria/Independência), em 20 de março de 1940. Tem como irmãos biológicos Vicença Vilani de Sousa e Francisco Francimar de Macedo, os dois, um pouco mais novos que ela.
Durante a infância e a adolescência, miséria e desestrutura familiar sempre rondaram Tia Anita e os irmãos. O sofrimento dos três pequeninos atinge seu ápice quando seus pais biológicos, Manoel Canuto de Macedo e Maria das Dores de Macedo, decidem deixar a terra natal e partir para a Amazônia, mais precisamente para Rio Branco, à época, estado do Amazonas.
A partida do casal choca e causa indignação nos moradores do pequeno lugarejo. Pois Manuel Canuto e Maria das Dores partem levando a pequena Anita, com aproximadamente dois anos de idade, e deixando abandonados os filhos mais novos Vilani e Francimar. Esses, foram acolhidos pelo casal Raimundo Canuto de Macedo (irmão do pai de Tia Anita) e Francisca Cícera de Macedo (irmã da mãe de Tia Anita).
Logo após chegarem à Amazônia, a pequena Anita também é abandonada pelos pais e, por sorte, foi encontrada pelo casal cearense João de Lima e Das Dores, conhecida como “Banana”. Eles a trouxeram de volta para Quiterianópolis, entregaram para o casal que já tomava conta dos irmãos de Anita e já possuíam 12 filhos biológicos. “Ela chegou magrinha, frágil e muito doente”, relembra Vilani.
No seio de uma família pobre, bastante numerosa e sem ajuda de governos, Anita e os irmãos biológicos e adotivos cresciam e as dificuldades financeiras só aumentavam. Sua avó, a parteira e rezadeira Antônia Maria da Conceição, conhecida como Toínha Breu, teve participação ativa na criação de Anita e seus irmãos. Inclusive, Toínha tinha bastante acesso à famílias abastadas de conhecimento e procurava encaminhar Anita junto a essas pessoas.
Ainda na infância, Anita teve como professora, Dona Virgínia, mãe do Padre Moacir, e Mirtes, irmã do religioso. Foi também aluna da professora Honorina Moreira Lima. “Lembro-me que João Lima [comerciante] trazia aqueles papeis de embrulhar produtos na bodega e mãe Cicinha passava o ferro de engomar para esticar eles e fazer caderno para Anita estudar”, recorda Vilani.
Vida pastoral e prática pedagógica
Por volta dos 12 anos, Tia Anita se engaja nos trabalhos pastorais, como devota de São José e do Coração de Jesus. Ao mesmo tempo que ia adquirindo o conhecimento sobre a Obra de Deus, ela também ia ampliando seu saber na área do ensino. Anita começa dar aulas de forma particular, em casas de famílias, em localidades como São Miguel, Caeiras, Timbaúba e Bom Jesus.
Por volta de 1964, Anita passa a lecionar na rede estadual, ao lado de professoras como Iracema Pedrosa. O trabalho pastoral e o voluntarismo seguem como missão da catequista. Ela sempre concentrava esforços na promoção de obras humanitárias e atuou diversas vezes em ações da Cáritas e Cruz Vermelha.
“Anita era como Jesus Cristo. Quando você pensava em ir numa família carente, que passava por dificuldades, ela já tinha ido lá”, destaca dona Iracema Pedrosa.
Esposa e mãe
Anita casou-se com Francisco Marques da Silva, conhecido como Chico Marques, com quem teve os filhos Flávio Mônica e Márcia. Por Chico sofrer com alcoolismo, coube a Tia Anita a responsabilidade quase que total na criação e educação dos filhos do casal e manutenção da casa.
Juventude Agrária Católica (JAC)
A generosidade, o desprendimento e o entusiasmo de Tia Anita e de outros jovens como Domingos Pedrosa (Pedrosinha), Iracema Pedrosa e Araci Cordeiro serviram de motivação para a criação de um grupo que atuaria em prol de causas sociais. Por volta de 1962, eles formam o Juventude Agrária Católica (JAC) e vão além da reza e da pregação da Palavra de Deus.
Entre outras ações desse grupo destaca-se a idealização e mobilização da população para a construção do Grêmio Recreativo, um espaço para realização de movimentos populares, área de lazer e promoção da cultura local. A obra foi iniciada por volta de 1964 e contou com a mão de obra voluntários e doações de comerciantes e políticos. O terreno foi doado pela Igreja Católica, através do Padre Jackson.
Pastoral da Criança
Aposentada e com os filhos todos casados, Tia Anita se doou sem nenhuma restrição aos trabalhos de catequese e da Pastoral da Criança. Era facilmente visível a satisfação que ela tinha em visitar as famílias, pesar e acompanhar o desenvolvimento das crianças, distribuir a multimistura e lutar cotidianamente para conseguir doações de roupas e alimentos para famílias em situação de pobreza extrema.
Notava-se que os olhos e o coração de Tia Anita transbordavam de alegria ao desenvolver uma ação que tivesse como finalidade amar, acolher, compreender e proteger as crianças, além de promover o respeito aos direitos dos pequeninos.
“A catequese é uma caminhada contínua de ação e oração. É uma pregação religiosa para a vida e conhecimento geral da Palavra de Deus”.
Tia Anita
Jornalista Cícero Lacerda
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